quinta-feira, 2 de junho de 2011

TERROIR - AFINAL O QUE É ISSO? - POR JOSÉ EDUARDO DE LORENZO.

Procurando a palavra “terroir” no dicionário de francês-português você vai encontrar: terra natal; torrão natal.  É isso aí. Mas hoje em dia quem gosta de vinhos, vira e mexe topa com a bendita palavra – terroir aqui, terroir ali, terroir acolá.


Se você for um pouquinho mais curioso e buscar nas publicações especializadas, vai achar terroir: “conjunto de solos e subsolos, da sua exposição à luz, do seu ambiente, que determinam o caráter de um vinho”; ou “uma área bem delimitada, onde as condições naturais, físicas e químicas, e o clima permitem a realização de um produto especifico e identificável”, ou ainda qualquer coisa parecida.  Pronto: você está up to date... já é um conhecedor. Será? Porém um pouco mais de informação não faria mal a ninguém.

         Porque o terroir pode fazer tanta diferença?  Eis a questão. A mesma uva, na mesma região, com vinhedos da mesma cepa a pouca distancia um do outro, pode gerar vinhos de caráter diverso. Como isso acontece?

         A resposta, a meu entender, é simples no conceito: é a planta, a videira, a uva, que consegue extrair da terra todas as minúcias e transferi-las ao vinho, gerando o seu caráter. Só isso? Tão simples assim? Mais ou menos, eu diria...

         Vou tentar um exemplo prosaico, bem perto de todos nós, da nossa cidade e região: a cana de açúcar.  É colhida, esmagada, faz-se o suco, põe-se a fermentar, evapora-se, obtém-se o açúcar. Este produto, feito em Araraquara, Américo Brasiliense, Jaboticabal, ou Nova Europa, traz alguma diferença? É possível identificar o local de origem colocando nossas papilas gustativas a trabalhar? Creio que não.        

Mas a videira vinífera é uma planta mágica, especial, talvez única; ela consegue fazer com que o seu produto traga a marca do terroir, ou seja, a videira seria capaz de identificar o local onde foi plantada.  Será?

          Hoje existem equipamentos ultra sofisticados para analisar substancias biológicas que podem identificar moléculas com incrível precisão. Os vinhos tem sido objeto de estudo e a cada dia sabemos mais sobre a sua composição e propriedades. Por exemplo, um bom vinho tinto contém mais de quatrocentas moléculas aromáticas diferentes! Qualquer outra fruta ou seu produto possui muitíssimo menos.

         Por isso quando se diz que o vinho tem aromas cítricos ou de frutas vermelhas, gosto de ameixas maduras ou de cacau, isso é realmente possível, porque na composição do vinho estão presentes moléculas aromáticas que também se encontram naquelas frutas.  A diferença, a mágica, é que a videira conseguiu capturá-las em seu terroir e transferi-las para seu produto, o vinho.

         Somando esta característica ímpar das uvas viniferas ao clima, à insolação com a mão (consciente) do homem no cultivo e na vinificação, o vinho com certeza trará o caráter inconfundível do seu terroir.

         Voltaremos ao assunto...

Um comentário:

Confraria dos Malas disse...

Olá pessoal!
Já fazem 6 anos que começei a degustar cientificamente e tive a oportunidade de ler toda o sorte de textos sobre o mundo do vinho.Infelizmente como em qualquer atividade muito textos são copiados ou baseados em um outro pré existente, e é quase impossível reinvertarmos a roda ou tudo o que já foi dito antes. Nessa minuta de identidade própria, o caro colega Dado conseguiu descorrer de forma sucinta uma das definições mais dificeis que existem em toda a enologia: TERROIR.
Parabéns querido e que continue abrilhantando esse blog com seus textos seu Valigione!