sábado, 25 de junho de 2011

O ESTRANHO GUGLIELMONE - POR MARIO MUZIO GUIMARÃES.

No dia 9 de outubro de 2008,  no restaurante Praça São Lourenço, em São Paulo, reuniu-se um grupo de veteranos enófilos (Didu Russo, Adolar Hermann, Clovis Siqueira, Ennio Federico , Renato Fascino e Sérgio de Paula Santos) para uma degustação muito especial.

Foram abertas com muito cuidado, pois as rolhas eram curtas, onze garrafas de Cabernet Franc e Nebbiolo, com 19 a 27 anos de idade, de uma vinicola já´extinta,a Adega Medieval, localizada em Viamão, próximo a Porto Alegre(RS), que pertenceu a Oscar Guglielmone, vinhateiro  gaúcho falecido em 1993.

Todos os participantes haviam sido amigos de Oscar Guglielmone e consideram os vinhos da antiga Adega Medieval os melhores já fabricados no Brasil, principalmente o da uva Nebbiolo.

Com surpresa constataram que os vinhos, com 19 a 27 anos de idade (safras 1981, 85,  86, 87 e 89) ganharam tanta complexidade, evoluíram tão bem, estavam tão bons que era incrível saber das condições de sua produção.

Pelos padrões atuais, estava tudo errado. Videiras em latada, tonéis velhíssimos de caoba, nada de carvalho, e eram de 500 litros. Nem leveduras importadas, nem sistema  de fermentação a frio. Seleção clonal nem pensar. Não existiam “ flying makers”. Se algum passou por lá foi a 10 mil metros de altura, comentou o autor da reportagem (Luiz Horta). 

ERA SÓ A VERDADE DA UVA E O TAL DE TERROIR. 

A questão central, muito bem apontada pelo repórter, é a seguinte: se um terroir pouco considerado como Viamão foi capaz de dar vinhos com tal longevidade e elegância, por que desapareceram produtos assim do nosso mercado?

Em três décadas o vinho brasileiro avançou técnicamente  mas houve uma perda: abandonou-se quase por completo a produção de vinhos para guarda, que reflitam os acidentes de cada ano, tanto climáticos como agrícolas, em resumo, vinhos de autor e de terroir.  

(Extraído da reportagem publicada no jornal Estado de S.Paulo, em 9.10.2008, pg.4  do suplemento Paladar, pelo crítico Luiz Horta).

Abraço a todos!

Um comentário:

Confraria dos Malas disse...

Olá Mario.
Infelizmente não tive oportunidade de conhecer esses vinhos da Adega MedievaL.Deve ter sido realmente uma experiência única a desses enófilos degustar provavelmente os vinhos brasileiros mais antigos e potáveis existentes.Creio que o momento e a oportunidade de amigos reviverem esses vinhos ajudaram na maturação das garrafas.Além de tudo que foi supracitado por vc,a busca de uma uva símbolo brasileira e a modernização dos métodos de vinificação por flying winemakers ajudaram a retraçar o verdadeiro perfil da vitivinicultura brasileira que era baseada na herança cultural trazida antepassados italianos e alemães durante a colonização. parabéns pelo texto.

26 de junho de 2011 19:42